Carrie (o livro)

Carrie é um dos livros mais famosos de Stephen King, muito disso se deve ao ótimo filme (1976) de Brian de Palma, com a incrível Sissy Spacek no papel principal. Mas quem lê o livro por conta do filme leva um susto e não é este susto que possa estar imaginando.
O livro tem um caráter documental que eu gosto muito em algumas obras, mas nessa me incomoda bastante.
Mas para ler este post, recomendo que o façam escutando essa música por motivos que não precisam de explicação:

SOLTA O SOM!


Título original: Carrie
Autor: Stephen King
Tradução: Louisa Ibañez
Ano: 1974 
País: EUA
Editora: Suma das letras
Páginas: 288
Preço: R$ 19,88
Em uma cidade pequena do Estados Unidos, acontece um fato extraordinário, cujo epicentro foi no baile de formatura de um colégio. Mas na verdade a tragédia já começa a ser descrita muito antes e a forma como a jovem Carrie é tratada por todos tem muito a ver com isso. 

Carrie é descrita em toda a cena do chuveiro de um modo tão degradante, que é impossível não começar o livro já torcendo para que ela queime todos, afinal, as coisas como "lamuriante saco de banha", são intoleráveis. O livro mal começou e a narrativa já é bastante difícil de digerir, não consegui identificar até onde isso foi proposital.


Algumas páginas depois, Carrie se vê insultada mesmo por uma criança, e se vinga dela, foi uma cena muito boba se olhar para ela de forma isolada, mas neste momento, Carrie já é uma criatura sem qualquer dignidade. Parece que existe um esforço estranho para que o leitor sinta pena, empatia, repulsa e raiva da personagem principal. Essas sensações duram por toda a leitura e isso faz a experiência toda muito estranha, um tanto sufocante eu diria.

O fenômeno telecinético é levado no livro de um modo um tanto científico em alguns momentos, só que esses trechos são risíveis, como nessa parte:
  “O fenômeno é frequentemente confundido com a obra dos poltergeists, que são duendes folgazões. Deve-se lembrar ainda que os poltergeists são seres astrais de realidade questionável, enquanto a telecinética é considerada uma função empírica da mente, possivelmente de natureza eletroquímica....”

Outro momento que a questão telecinética é levada num tom exageradamente científico é quando citam questões físicas. Eu até acho interessante esse lance científico, até por que é minha área de atuação, mas no livro esses parágrafos parecem ridículos, como se o autor quisesse acrescentar isso sem ter muito trabalho com pesquisa realmente, ou então a ideia era dar este tom de charlatões aproveitadores aos estudiosos do caso. 


No fim, acabou que essas pausas científicas deixaram o ritmo do livro meio chato. Por sinal, quero aproveitar e acrescentar um vídeo nesse post de um dos canais que mais gosto do youtube, o Nerdologia, e é um vídeo que fala sobre Telecinese , então nada mais apropriado. Para quem sentir que gostaria de saber mais sobre o assunto por causa dessas partes do livro, este vídeo é ótimo. Assim como o canal... E eu nem conheço ninguém do canal então é uma propaganda desinteressada por que gosto bastante do canal.
Voltando ao livro , outra parte que me pegou foi um diálogo sobre crianças, que elas não sabem o quê fazem e nem tem empatia, sei que é só um livro de ficção, mas estas coisas ficam na minha mente, então mais uma vez me peguei empacada em um momento do livro, por que parei para refletir esse diálogo. Então aqui está um vídeo sobre um teste interessante , e outro sobre o caso de uma garota com muitos problemas, um dia talvez até volte a abordar este assunto no blog, é caso famoso, que gerou um filme chamado a ira de um anjo, o vídeo é esse e é muito impressionante. E pode parecer que estou fugindo muito do assunto do post, mas eu acho que tem muito a ver, já que a atitude de Carrie, está relacionada a vários fatores que envolvem empatia e anos de tortura psicológica. 


Depois dessa volta pelo mundo psicológico (que não é minha área, não me batam), vou me focar só no enredo mesmo, eu acho que este livro aborda questões muito importantes, mas de uma forma muito estranha, que as vezes te coloca do lado errado. 

A não ser durante as páginas sobre Chris e Billy, que eu nem conseguia ler de tanta irritação que sentia em relação a eles. Acredito que Stephen quis manter os personagens todos com nuances de bom e mal, certo e errado, mesmo aqueles mais extremos como a mãe de Carrie, mas Billy e Chris são apenas nojentos e tiveram uma morte muito tranquila na minha humilde opinião.

Lógico que a raiz de muitos dos problemas que ocorrem nesse livro está na relação entre mãe e filha, a mãe uma fanática religiosa das mais extremas (King adora essa figura em seus livros, mas acho que nunca conseguiu superar essa), e Carrie que simplesmente não conhece outra vida mas adoraria conhecer e até tenta mas sabemos o que acaba acontecendo. 

A sociedade de certa forma é retratada da forma que ela é, a diferença está no fanatismo da mãe e nos poderes de Carrie. As perguntas no geral de quem lê são: “Se a mãe tivesse falado sobre menstruação, será que nada teria acontecido?”. “Se Sue não tivesse sentido tanta culpa, nada disso teria acontecido?”. “Se a mãe não tratasse Carrie como feiticeira do satã, será que ela teria entendido de uma forma melhor o que lhe acontecia?”. “Se a empatia por Carrie fosse sincera, será que a reação dela teria sido outra?”.


As perguntas podem continuar por muito mais tempo, e as respostas não existem por que a personalidade de Margareth White, a criação de Carrie, a relação de seus poderes, e a sociedade que tende a derrubar em vez de levantar se isso for mais interessante para cada individuo, é que fizeram a situação culminar nas mortes do baile de formatura.
Alguns se sentem vingados e satisfeitos com a vingança de Carrie e outros consideram que ela era tão ruim quanto sua mãe. Carrie não era nem vítima nem vilã. Ela era ambas e nenhuma. Carrie teve uma criação sufocante, mas sabe o que é certo e errado. Sabe que quando pensava como a mãe estava seguindo para um lado intolerante e violento. Sabia o que eram atitudes boas, mas o modo que foi tratada por todos fez ela passar a não acreditar mais nessa possibilidade. Mas ainda assim, conhece o que é bom e o que é ruim. Toda a sensação boa que sentiu no baile mostra que ela sabe bem como é isso, mas ela pegou o atalho que considerou mais fácil. 
A maldição da mãe, ser a feiticeira do apocalipse.

PS: E a edição que eu tenho é essa:




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